O jeito que ele me olha é que me inspira e desgoverna. Um jeito que me
conhece no derramado de dedos que convidam. De quando eu peço abraço
quando ele quer me dar, mas faço tudo quase num contorcimento de dor, e
ele acha bom eu ser intensa. E a voz sem sossego, o corpo pronto e
quente sempre. E, se ele demorou tanto, nós sabemos: amor também precisa
amadurecer ou maturar na arnica, feito remédio. Nunca tive muita
impaciência na espera, ele sabe. Pude pular de galho em galho e ir
embora
quando meu coração não queria ficar, enquanto. E, das vezes que quis
ficar e não tive espaço, entendi. Funciona quase como o mesmo modo de
quem faz ninho para um só passarinho, aquele todo especial. Mas eu
exerci meu par de asas. E fui feliz com as paisagens que sobrevoei. Aí,
quando eu menos esperava, ele chegou encompridando alegrias tão amenas,
tão bestinhas. Fui compreendendo aquela falta de desespero. Eu achando
graça na saudade. Eu perdendo o peso da lembrança só pra rir de tudo. Eu
ficando leve. Eu sentindo sono logo na infância da noite. Porque meu
coração estava, enfim, descansado. Eu achando bom meu coração pousar
assim: decidido e destrambelhado.
Marla de Queiroz
Marla de Queiroz
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