quinta-feira, 24 de maio de 2012

DEPOIS DA TEMPESTADE




Talvez ele não saiba que aquela dor que ele causou, calou os olhos dela violentamente por uns tempos. Isso não é crime, é carma: magoar alguém assim, dentro do melhor vestido, remover com lágrimas o rímel cuidadosamente passado, deixar tão descrente alguém que achava a vida mágica... Talvez ele nem desconfie que quando ele disse “eu vou embora “e ela “tudo bem”, logo que se deram as costas, ela respirou fundo uma, duas, três vezes, colocou quatro gotas de floral de Bach embaixo da língua e se afundou na tristeza escutando “Killing Me Softly” da Roberta Flack e “Como Vai Você?” do Roberto Carlos.Talvez ele nunca saiba que ela mudou os móveis de lugar, mandou queimar o colchão que já conhecia o peso dos dois corpos, e deu pro morador de rua o edredom que testemunhara tantos abraços noturnos.O que ele também não sabe porque nem ela sabia, é que um dia ela acordaria assim, vazia daquele amor.A dor exaustiva de cabeceira havia cessado, deixada no fundo do poço.Parou de se alimentar daquela porção individual de desilusão e enterrou o passado num túmulo desconhecido, para que não houvesse a menor possibilidade de revisitá-lo.

(Ele quase soube disto quando pensou que ainda estava recente para ensaiar uma recaída,um “flashback.” Mas para ela, que só soube na hora do reencontro tão almejado,já era tarde.)

E o seu melhor vestido pedia uma nova chance e um rímel à prova dágua.

Marla de Queiroz

- Geente, desculpa não estar atualizando direto agora, é que domingo tenho uma prova de concurso, mas semana que vem tô na ativa! Beijo pra quem for beijo, e abraço pra quem for abraço :*

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